QUESTÃO DISCURSIVA

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quinta-feira, 8 de abril de 2010

FERNANDO PESSOA

POEMA EM LINHA RETA



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.


Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.






E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,


Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,


Indesculpavelmente sujo,


Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,


Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,


Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,


Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,


Que tenho sofrido enxovalhos e calado,


Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;


Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,


Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,


Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,


Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado


Para fora da possibilidade do soco;


Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,


Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.






Toda a gente que eu conheço e que fala comigo


Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,


Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...










Quem me dera ouvir de alguém a voz humana


Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;


Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!


Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.


Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?


Ó príncipes, meus irmãos,






Arre, estou farto de semideuses!


Onde é que há gente no mundo?






Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?






Poderão as mulheres não os terem amado,


Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!


E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,


Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?


Eu, que venho sido vil, literalmente vil,


Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


(Álvaro de Campos)

3 comentários:

  1. Quem de nós não se identifica com Fernando Pessoa?

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  2. Eu pelo menos ainda não. O que não se identifica comigo: -Pedir emprestado sem pagar(espero que nunca aconteça). Esse poema trata muito sobre experiências. Acredito que todos devem ter passado em algum momento da sua vida por cada um desses acontecimentos(com excessão de mim que não me identifico com otópico acima citado.

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  3. Devemos observar o autor, a época e o porquê de ele ter escrito. Creio que com as aulas de interpretação vc entenderá melhor o que lerá. Mas... todos passaremos por situações semelhante e nem sempre seremos corajosos para verbalizá-las.
    Bjs

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